Sunday, August 2, 2009

Retiro em Camargo


Camargo tem sido o refúgio destes últimos dias que, teoricamente, ainda são de férias mas na prática têm sido um mistura de descanso e algum planeamento do trabalho que tenho por realizar antes de regressar a Portugal. Aqui a época de chuvas começou com toda a força e, como no ano passado, já houve um pequeno grande susto (mas desta vez foi dentro de casa em vez de ter sido quando encerrada no carro). E falar de chuva e susto, é falar de um cenário de verdadeira tormenta, em que a chuva chega ao solo como se de baldes saisse, relâmpagos cada 10 segundos com fortes trovões que parece que a qualquer momento nos vão cair em cima, e um vento intenso que parece ser capaz de nos levar facilmente. E o curioso é que vêm quase sempre de surpresa! Reconheço um céu de nuvens inofensivas de outro onde as nuvens estão prontas a descarregar, mas é sempre inesperada a força com que a natureza se revela. Desta vez, na tranquilidade de casa, quase pronta para jantar fomos surpreendidos por uma pequena tormenta que levava a energia eléctrica aos soluços, e também por um raio que caiu sobre a antena da casa em frente, que fica do outro lado da rua a uns escassos metros da nossa. Pude concluir algo desta experiência: os canários mexicanos são mais resistentes do que os portugueses! :) Isto porque há uma grande gaiola com cerca de uns dez canários junto à janela del comedor, que na altura se encontrava aberta (e ao dizer que estas chuvas intensas vêm quase de surpresa, vêm mesmo num curto de espaço de tempo para que possa haver qualquer tipo de reacção). Quando começou o temporal, o vento e a chuva entraram pelas janelas abertas e os trovões ensurdeciam-nos por momentos. Todas as espécies de animais da região devem estar concerteza acostumadas e adaptadas a este tipo de clima, mas achei curioso e passei grande parte do tempo a observar estas pequenitas aves por sempre ter ouvido que a qualquer susto podem sucumbir. Mas não, dia após dia e os dez canários mantêm-se firmes. E durante 50 minutos, sentados à volta da mesa esperámos que tudo acalmasse. A ver se este ano regresso a Saltillo sem reviver um cenário destes… Entre a tentativa de organizar algum trabalho e a "vontade de fazer nada", há as caminhadas matinais e idas ao rancho, quando é possível escapar da chuva. Camargo é um lugar de muita conversa e chismes (mexericos) entre os quais, quem matou quem, que narcotraficante foi apanhado, (e o meu tema preferido) OVNIS. Eu raramente entro nas conversas. Prefiro apreciar as reacções e emoções das pessoas quando descrevem as suas ideias e experiências. Só exponho a minha opinião quando me é pedida, tentando não ferir susceptibilidades. É impressionante ver como cada reunião, cada convívio, se transforma numa oportunidade para falar de assuntos tanto provocadores como assustadores, onde se abordam temas desde o oculto até religião. E impressionante também é ver como as pessoas disfrutam esses momentos e os vivem no seu todo. Inúmeras vezes me perguntam se o México e Portugal são muito diferentes, e de qual destes países gosto mais. Quase sempre inicio a minha resposta dizendo que não posso compará-los e nem há porque o fazer, pois cada um tem a sua beleza e particularidades positivas/negativas. Normalmente fico-me com um comentário tipo: "São simplesmente diferentes e gosto muito de ambos!". Mas claro que são culturas muito distintas, e nestes detalhes (que move as pessoas) sente-se essa diferença. Esta semana aprendi um ditado muy gracioso: “Hijos de mi hija mis nietos serán, hijos de mi hijo en duda estarán!”, que resultou de uma viagem ao passado através de uma longa conversa sobre família e gentes. Sempre a aprender…e a viver as diferenças que tornam tudo mais especial.

Amanhecendo em Camargo. 6:30 a.m. já pronta para a caminhada.

Amanhecer chuvoso em Camargo.

Ao fundo a serra coberta pelas densas nuvens carregadas e o arco-iris dando alguma cor ao dia.

O regresso a Saltillo está previsto para o próximo dia 4. E até lá muito convívio, contacto com a natureza e relax! :)

2 comments:

  1. Olá SM!

    Tinha um pote de ouro no fim do arco íris? Seja como for, belas fotos. Mostram bem o que conta no texto, sobre os dias de tempestade. Também já apanhei algumas em selvas fantásticas como toda a gente imagina que vivia o Tarzam ou o Mogli, até duas no mar, uma no Atlântico e outra, há alguns meses, no Mediterrâneo. Mas, diz-me a experiência, que há tempestades piores, daquelas que não chove nem troveja, mas em que se discute muito. E para essas, nem sempre há um pára-raios que nos proteja...

    Um beijo,

    Alexandre Correia

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  2. Olá Alexandre,

    Encontrei sim um pote no fim do arco íris, carregado de memórias que valem ouro! É o que se leva de mais precioso da experiência de conhecer outros países. Quase três anos na Irlanda e um ano no México (cumprido dia 28 de Julho) fazem com que tenha um pote com bastantes memórias boas! A intenção é fazê-lo transbordar…

    Quanto às tempestades climatéricas, essas temos mesmo de aguentar e esperar que a seu tempo tudo volte à normalidade; aquelas em que não chove nem troveja mas em que se dicute muito, nem sempre temos de “aguentar”. Depende. Algumas evitam-se, outras ignoram-se e há outras ainda em que somos obrigados a interagir… O pára-raios é a nossa convicção.

    Um Abraço,
    Silvia

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