Thursday, September 3, 2009

Sou de lugar nenhum...


Começa a aproximar-se o meu regresso a Portugal e torna-se inevitável não pensar nisso uns minutos que seja por dia. Há alguma ansiedade. Quando vivi na Irlanda, ir a Portugal era uma lufada de ar fresco para o espírito. A oportunidade de absorber toda e qualquer energia que me dava força para continuar. Mas havia sempre aquele sentimento de visita, que tinha de prosseguir com a minha viagem. Neste momento sinto que a viagem me levou a lugares muito diferentes, onde reina um dia-a-dia desprendido de materialismos, uma vida simples que só deixa espaço para querer conhecer o que ainda há por descobrir. Uma vez em conversa com um grande amigo, que de alguma forma me queria confortar mas confrontar também com a realidade de Portugal, dizia que isto de viver aqui e ali faz com que a perspectiva de regressar ao nosso país seja uma dura experiência. Não estou aqui a considerar os valores do meu país, nem é isso que está em questão. Considero-me afortunada por ter tido a oportunidade de estudar fora da minha cidade e do meu país, pois à parte de todas as boas e más experiências que vivi e me fizeram crescer, aprendi também a valorizar ainda mais as minhas origens. A verdadeira questão é que nos começa a invadir um estranho sentimento de que não pertencemos a lugar nenhum. Que podia estar em qualquer país de qualquer continente e sentir que aí pertenço. Mas depois, já quando nos sentimos quase como em casa, vem a vontade ou necessidade de mudar. Vou encarar bem o meu regresso, e vou estar bem em casa. Mas mentiria se dissesse que não penso na minha próxima viagem...Pensar e sonhar não custa!

A caminho da Serra de Arteaga (México 2008)

7 comments:

  1. amiga, esse é o "síndrome do nómada". eu sempre disse que era cidadã do mundo e só depois cidadã portuguesa e francesa. a verdade é que cada experiência traz-nos sempre algo de diferente e abre-nos o apetite para mais. é claro que um regresso à casa-mãe é sempre agradável, mas a tua visão das coisas será completamente diferente - e um dia vais acordar e vais te sentir uma estranha no teu próprio país... é essa a triste realidade. e voltas a fazer malas à procura de um sítio melhor. a verdade é que nunca o encontraremos. na irlanda, na suíça, no méxico, em portugal - vem tudo ao mesmo. há pontos positivos e há pontos negativos. os países são todos "iguais" - nós é que somos diferentes :)
    espero que o teu próximo poiso seja aqui na suissinha e prometo-te que arranjo um belo apartamento onde possamos coabitar ;)

    bjinhos, linda ***

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  2. minha amiga, apenas para ti dizer que pelo menos ao meu coração pertencerás sempre!!! e quanto a esse sentimento, vou partilhar contigo uma frase muito bonita que me falaram:

    "A nossa casa é onde está o nosso coração!"

    adoro-te,amiga***
    vemo-nos algures, daqui a uns dias?!

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  3. Espero sinceramente que, estando onde estiveres, consigas sentir-te em casa. Linda essa comparação entre a casa e o coração, verdadeira. Não arrumes é essas asas, dos sonhos, da liberdade, como queiras chamá-las, o prazer de partir à descoberta de novos lugares, porque não devemos limitar os nossos horizontes àqueles que a vista alcança. E já agora, bem vinda!

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  4. Olá SM,

    Como compreendo bem esses sentimentos!... Tive a liberdade de poder começar a viajar logo aos 13 anos. Eram outros tempos, é certo, onde andar à boleia era coisa vulgar e de risco mínimo, em que as pessoas facilmente "adoptavam" quem viajava sozinho e ninguém diria que só tinha esses 13 anos. Como voltei sempre sem ter passado por problemas, essa liberdade foi-se alargando. Assim, se primeiro pude ir descobrir Portugal, depois o mundo foi-se começando a alargar e nunca mais parei. A dada altura, já adulto, estas viagens tornaram-se mais distantes, mais exóticas e cada vez mais demoradas, até mesmo mais confortáveis. De tal modo, que mesmo continuando a viver oficialmente em Portugal, Lisboa, sempre que regressava sentia-me um pouco estranho. Claro que estas sensações rapidamente se desvaneciam assim que voltava a integrar-me no quotidiano lisboeta. Mas desde então, não consigo passar sem essas sensações e preciso mesmo de, de tempos a tempos, mudar de ares e perder-me por outras paragens, onde ainda consiga encontrar coisas novas. Mentiria se dissesse que não gosto de voltar, pois cada vez que vivo um destes dias luminosos como só Lisboa tem, sinto que vale a pena estar por aqui. Porém, quanto mais vou conhecendo o mundo, outras realidades, outros povos, outras culturas, vivências e formas de estar, mais sinto que Portugal é muito pequenino e tenho pena que nos tenhamos espalhado por 140 países do mundo (de acordo com um estudo oficial de imigração, revelado hoje mesmo), mas tenhamos importado muito pouco disso. De facto, só quem já viveu profundamente noutras realidades do mundo consegue perceber tudo isso. Como eu a entendo. E a SM também me entende!

    Beijo,

    Alex

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  5. Minha Li linda, haverá tratamento para esse síndrome? Não creio, é algo que se entranha no pensamento e se transforma em vontade, verdade? Tu sabes que me assusta um pouco o “reajuste” ao nosso “Portugal pequenino”, mas sabes também que sou aquela tua amiga optimista que ainda acha que até o impossível pode ser possível :) E claro que em certa parte és a culpada dos meus mais recentes pensamentos de nómada, e se tudo correr bem aí estarei contigo no próximo ano! Fingers crossed! ;)


    Minha Joaninha brasuca, já são muitos, tantos anos esses em que pertencemos ao coração uma da outra (nem menciono quantos porque nos vai fazer sentir velhas :P). A frase que me envias é muito bonita e deixa-me a pensar… Onde está o meu coração? ;) Muitas saudades! Quanto ao nosso encontro vou de imediato escrever-te um email a “dar o ponto da situação” que por mexicanices parece estar complicado…


    Olá Miguel, essas asas e sonhos dificilmente serão “arrumados” porque sou e tenho mesmo de ser assim, livre e sonhadora. Eu vou sempre espreitando esse seu cantinho onde nos revela a vida tal e qual como ela é. Porque, sem qualquer dúvida, “na vida nem tudo é branco ou preto, bom ou mau, verdade ou mentira”! Obrigada pela sua visita e as suas palavras.

    Alexandre, sei que pela sua experiência de vida, é mais do que fácil compreender estes meus sentimentos, esta mistura de querer voltar mas saber que sentirei de quando a quando a necessidade de “perder-me por outras paragens”. E apesar de tudo, só posso mesmo repetir-me e dizer que sou afortunada. Afortunada por me poder sentir assim tão “fulfilled” com tudo o que “aqui ou ali” vivi e conheci. Agora quero pensar no meu Porto e na minha segunda cidade que é Braga. O que vier depois, vem como sempre, do inesperado e da vontade.

    Beijos e Abraços,

    Silvia

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  6. Tornaste-te uma cidadã do Mundo, essa é que essa.
    Também aprendi a valorizar os momentos de descanso para "absorver toda e qualquer energia" de modo a ter forças para continuar, tendo chegado a um ponto que tudo se torna muito natural.

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  7. Pois é Gimbras, não se pode fugir à realidade dos factos! E esse é o objectivo: estar num lugar onde sinta que é "natural" aí estar.

    Abraço,
    Silvia

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